Testemunho de vida consagrada
Por volta dos meus 16 anos, por altura do Crisma, comecei a sentir uma inquietação interior que não sabia como definir. A única coisa que era clara, era a vontade de sentir-me útil. Via a televisão, lia revistas que me desafiavam e o mesmo desejo mantinha-se: ajudar!
Procurei o caminho do voluntariado, partilhei com o meu Pároco … que me sugeriu ajudar na catequese.
E decidi experimentar e fiquei com um grupo, cuja catequista era uma Irmã desta Congregação. (Nunca na minha vida tinha estado perto de freiras).
Eu e outra jovem como eu, fomos abrindo-lhe o nosso coração inquieto (que escutava com atenção, as nossas inquietações próprias da adolescência.
Um dia convidou-nos a participar num encontro de jovens que se iria realizar em Santo Tirso.
Este foi o primeiro dos vários encontros que fazia questão de participar.
Entretanto, entrei no ensino superior.
Durante este tempo fiz a vida académica como qualquer jovem, no meio de estudos, divertimentos, festas, entre tantas outras coisas boas e divertidas.
Mas apesar de estar feliz, havia qualquer coisa dentro de mim que eu não sabia explicar. Era como se sentisse um vazio que nada era capaz de preencher.
Passei mais de um ano sem ir aos encontros, mas quando estava a terminar o curso inscrevi-me num. Senti-me tocada e não podia mais calar que me ia dentro. Tive então que conversar um pouco com uma das irmãs que orientava o encontro.
Eu mostrava claramente que gostaria de ser religiosa, mas não era capaz de o assumir, nem a mim própria. A Irmã chegou a um ponto em que ousou dizer-me: Porque tens medo de chamar as coisas pelo nome? Pensa!
A verdade é que saí desse encontro muito mais leve.
Entretanto terminei o curso e escrevi uma carta dizendo: Irmã, estou livre para aquilo que Deus quer de mim”
O pior foi no dia seguinte, quando um ex colega me ofereceu um estágio na minha terra, numa empresa, com grande probabilidade de ficar lá. Como isso não estava nos meus planos, ele deu-me um mês para decidir. Os meus colegas de curso andavam à procura de estágios e não encontravam, eu que não andava à procura veio um ter comigo esta oportunidade. Senti que Deus me tinha baralhado por completo.
Os dias que se seguiram foram dificílimos. Tinha que tomar uma decisão que iria definir o meu futuro. Passado quase um mês de grande sofrimento interior, acabei por recusar o estágio. (um pouco contra a vontade da minha mãe).
Ninguém imagina como fiquei aliviada, parecia que tinha ganho asas para voar.
E assim decidi aceitar o convite de Jesus “Vinde e vede” E tal como os discípulos que foram e permaneceram com Ele, também eu vim e permaneço com Ele.
Ao longo destes quase 11 anos de vida religiosa, o Senhor já me proporcionou várias experiências, desde os mais Idosos num lar, à Contabilidade da Congregação, às missões Ad Gentes em São Tomé, à secretaria numa Casa de Saúde, até às Irmãs mais idosas, onde me encontro atualmente.
No meio de tudo isto posso dizer parafraseando o que Jesus disse: Não fostes Vós que me escolhestes… fui eu que vos escolhi e vos destinei para irdes e dar fruto e o vosso fruto permaneça.
Não fui eu que escolhi primeiramente o Senhor. Foi Ele que se deu a conhecer, me seduziu e me chamou… e eu disse sim.